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06 de abril de 2016 as 11:20 / Geral

REFLEXÃO: Pensar nas mulheres é pensar na humanidade

 

Em 2015 aceitei com muita honra a oportunidade de palestrar na Conferência das Mulheres do Município de Tio Hugo, e agora, no mês da mulher, quando tradicionalmente celebramos o Dia Internacional da Mulher, me propus a retomar essa temática de extrema importância e atualidade.

Sinto-me privilegiada em escrever sobre esse tema, pois, ao mesmo tempo em que se trata de algo que particularmente me desperta interesse, também não deixa de ser um desafio que exige coragem e sensibilidade, já que tal questão costuma suscitar opiniões intensas tanto em homens quanto em mulheres.    

O Dia Internacional da Mulher se constitui como uma data para ser pensada, e não somente comemorada. Digo isso para enfatizar a importância de que todos possam refletir sobre o verdadeiro propósito desse dia, que definitivamente não se trata apenas de exaltar as belezas e delicadezas femininas. O 8 de Março nasceu como um marco da trajetória das lutas das mulheres por direitos humanos, políticos, sociais e trabalhistas mundo afora. Inclusive, tudo indica que surgiu como uma homenagem a um grupo de operárias nova-iorquinas que, ao reivindicar melhores condições de trabalho e a asseguração de uma série de direitos, foram brutalmente assassinadas em um incêndio criminoso. Infelizmente, não existe consenso histórico sobre o ano de ocorrência desse fato e, consequentemente, nem se o mesmo realmente ocorreu. Entretanto, esse suposto acontecimento sempre esteve intimamente relacionado às lutas feministas, o que sugere a veracidade do mesmo. Porém, a escassez de informações sobre esse episódio alarmante me suscita incômodo e me leva a questionar: por que tão pouco se sabe sobre esse evento assombroso? Talvez, essa seja mais uma expressão da sociedade e da sua dificuldade em lidar com o tema dos direitos das mulheres, bem como de dar a merecida importância e seriedade a tal questão. Pois, de fato, existe uma forte resistência do mundo em tomar conhecimento dessas injustiças, no sentido de realmente reconhecê-las, não só em discurso, mas em atos que gerem verdadeiras mudanças.

Por mais que atualmente as desigualdades pareçam menos evidentes, elas permanecem profundamente enraizadas em nossa cultura.  As mulheres continuam sofrendo com salários inferiores, dupla jornada de trabalho, desvantagens na carreira profissional, assédio moral e sexual, violência doméstica, entre tantas outras formas de preconceito, que também podem ser sutilmente praticadas.

Além disso, as situações em que a violência contra a mulher atinge patamares extremos da crueldade, envolvendo a desumanização da vítima e que, muitas vezes, chegam ao feminicídio (quando a mulher é assassinada propriamente por ser mulher, se constituindo em um crime hediondo no Brasil desde o ano passado) são frequentes. Um exemplo disso foi o caso da jovem Gisele Santos, que ganhou repercussão na mídia no ano passado em decorrência da crueldade envolvida. Gisele foi deixada à beira da morte em sua própria casa, além de ter tido mãos, pé esquerdo e parte do direito decepados por seu companheiro, com quem estava em uma relação abusiva há cerca de sete anos.

Casos como o de Gisele ainda ocorrem com absurda frequência em nosso país e no mundo, e inspiraram a criação da Lei Maria da Penha, em vigor desde 2006 no Brasil. A norma aumenta o rigor da punição sobre os crimes praticados contra as mulheres, que podem envolver violência física e/ou psicológica. Inclusive, essa lei foi assim denominada em homenagem a Maria da Penha Maia Fernandes, que foi vítima de violência doméstica durante 23 anos de casamento, além de ter sofrido duas tentativas de assassinato praticadas pelo seu próprio marido. Maria acabou ficando paraplégica em decorrência da violência sofrida e se tornou uma ativista política pelos direitos das mulheres.

Infelizmente, não faltam exemplos reveladores do quão extrema a violência contra a mulher pode se manifestar, inclusive em pleno século XXI. Casos como o que ocorreram com Maria da Penha ou com Gisele Santos denunciam que o progresso não é uma garantia e que esse pode, até mesmo, ser uma ilusão, pois a barbárie permanece inserida nas entranhas da nossa sociedade.

Por isso, insisto em dizer que homens e mulheres devem carregar no peito e transpor em atos, diariamente, e não somente no Dia da Mulher, a homenagem profunda ao que é saber o valor da mulher, os direitos da mulher e a dignidade com que elas merecem ser tratadas. Essa não é uma luta apenas das mulheres, e sim, uma luta de todos por uma sociedade mais justa e democrática, uma luta por um mundo melhor, pelo sentimento de humanidade, em que tanto homens como mulheres são gente e merecem respeito.

Camila Erpen Zardo

Psicóloga – CRP 07/23703

 

Prefeitura Municipal de Tio Hugo/RS


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